diário nos bairros

Moradores da Vila Belga lutam pela preservação da herança ferroviária

Da redação*

Fotos: Gabriele Bordin (Diário)
O contraste do velho e do novo é expressado em um muro na Rua Dr. Wauthier. A pintura é do morador Valmir Tavares Borges

Em 13 de abril, a Vila Belga completou 112 Anos. Até 1960 o local era a marca da cidade ferroviária. A vila é patrimônio histórico e cultural do município desde janeiro de 1988 e, além de ponto turístico, abriga importantes instituições de Santa Maria e hoje sedia o popularizado e premiado Brique da Vila Belga. 

A educadora especial Myrna Floresta, moradora da Rua Manoel Ribas, está na segunda gestão como presidente da Associação de Moradores Ferroviários da Vila Belga. Ela nasceu em Três Passos, mas se mudou para Santa Maria, aos 5 anos. 

- Minha família materna é de Jaguari, onde eu passava as férias. 

Lá, sempre fiquei na casa da minha avó. Uma residência antiga e grande, bem ao estilo da Belga, a qual sempre fui apaixonada. 

Quando conheci a Belga, me encantei - lembra a moradora.

O transporte de veículos de carga danifica as ruas de paralelepípedo, como a Manoel Ribas, uma das mais movimentadas

A história de Myrna com a localidade começou ao conhecer o ferroviário aposentado e assessor parlamentar Paulo Conceição, há 13 anos. O marido era dono de uma das 84 casas conjugadas da Vila Belga e pretendia trocar o imóvel antigo para morarem em um local mais moderno. Ela, apaixonada pela arte arquitetônica e detalhes do lugar, convenceu Paulo a 

reformarem a residência antiga, simples e aconchegante. 

No mesmo período em que conheceu Paulo, a educadora especial trabalhou na prefeitura de Santa Maria, atuando por dois anos nas secretarias de Turismo e de Captação de Recursos e Relações Internacionais: 

- Aprendi muito sobre patrimônio e o valor de se manter a história de um lugar através da preservação de seus espaços. 

Embora a admiração da moradora pelas características do conjunto arquitetônico, há muitos problemas na vila. 

Segundo a avaliação de Myrna, um deles é a falta de respeito aos cuidados especiais que as ruas pavimentadas necessitam. Devido ao trânsito de veículos de carga e estacionamento de transportes nas calçadas, os buracos nas vias e em frente às casas reaparecem após cada manutenção. 

- Falta a consciência de que estas ruas são mais frágeis e estreitas do que o normal - explica Myrna.

Estrutura da antiga Associação dos Empregados da Viação Férrea oferece riscos

Estes prejuízos são ainda maiores para os muitos deficientes visuais que frequentam a Vila Belga pela presença da Associação de Cegos e Deficientes Visuais (ACDV). 

- Para a solução destes problemas, buscamos apoio de empresários interessados na preservação da Vila Belga para custear diferentes tipos de manutenção, principalmente de calçamento. Em parceria com a prefeitura e da mediação da associação de moradores, providenciamos estas formas de driblar as dificuldades - diz a presidente. 

Ela também lamenta a falta de sinalização de trânsito e turística na região: 

- Muitas pessoas vêm visitar a vila e falta orientação. As placas informativas, que são apenas quatro, estão pichadas. 

Por conta da falta de segurança, principalmente roubo de postes - e mais de 20 foram roubados no ano passado -, a associação instalou, 13 câmeras de segurança ao longo da Vila. A manutenção dos equipamentos é feita com mensalidades dos associados. O monitoramento é feito pela Brigada Militar, Guarda Municipal e mensalistas. Já um grupo de WhatsApp que serve para avisos, por exemplo, de quando uma família viaja, para que os vizinhos ajudem no reparo da casa dos que saíram da cidade. A mensalidade custa R$ 10 por casa, mas os pagantes não chegam a 50% dos moradores. Com este valor, são realizadas manutenções na sede da associação, produzidos informativos e se mantém um tesoureiro. 

Desnível nas calçadas da Vila Belga é formado por estacionamentos irregulares

Outra preocupação da moradora é o Clube da Associação dos Empregados da Viação Férrea, que já não pode ser visitado, pois o teto está despencando. A cada chuva e ventania caem mais folhas de zinco.

Além disso, janelas e itens de dentro do local são roubados. O ferroviário aposentado Valmir Francisco Tavares Borges, 79, desenhou vagões de trem no muro do Clube da Associação, na Rua Dr. Wauthier. É ele quem cuida do prédio do clube, que fica ao lado da casa onde vive.

O QUE DIZ A PREFEITURA

  • Sobre o Clube da Associação dos Empregados da Viação Férrea 

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, o clube é um patrimônio cedido ao município pela União. Assim, a prefeitura está no aguardo da definição da solicitação, feita pela pasta, para a mudança de uso dessa área, que hoje tem limitações de uso que causam dificuldades na captação de investimentos. 

  • Sobre os buracos na via e na calçada na Rua Manoel Ribas

Conforme a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos , a manutenção da calçada é de responsabilidade do proprietário do imóvel. Sobre os buracos na rua, os trabalhos de restauração ainda não foram realizados, pois a pasta aguarda a contratação de mão de obra qualificada para trabalhar em vias de pedras irregulares. 

  • Sobre a falta de mais postes

A Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos informa que os postes que restam na Vila Belga foram depredados e quebrados na base. Assim, a pasta estuda, junto ao fornecedor desses postes, uma maneira de restaurá-los.

*Colaborou Gabriele Bordin

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